domingo, 6 de setembro de 2015

O meu filho, o seu, o deles...

Acho que depois do episódio do menino João Hélio (arrastado por bandidos num carro no RJ, em 2007) eu não fico tão mexida com uma história envolvendo crianças.
Ao ver a foto quase angelical, do corpinho de Aylan Kurdi, o menino sírio, meu coração disparou e meu estômago deu um nó. Quando soube que Khaled, seu irmãozinho e Rihana, sua mãe, também morreram, o nó apertou. 
Só o pai se salvou. Ele e sua dor, os sobreviventes.
Esses pais enfrentaram o medo da escolha, o mar, a morte. Devem ter enfrentado o pior dos sentimentos: a impotência. Eles não puderam ajudar aos seus filhos. Eles devem ter olhado seus olhinhos desesperados. Eles devem ter tentado protegê-los. Eles queriam liberdade.
Pensei no meu filho, no seu. 
No desespero dessa família. No mundo que estamos vivendo, construindo, fazendo parte.
Esse drama ganhou destaque internacional, mas e os tantos outros anônimos, que não viraram manchete de jornal...
Quantos Aylans já morreram e ainda vão morrer. Na Síria, no Nordeste, em São Paulo.
Os que morrem de fome, os que não tem um teto ou que morrem de frio. Os que não tem água.
Eu, que quero tanto para o meu filho, penso nos desejos que Rihana e Abdullah tinham para os seus meninos. Concluo que eram mais nobres e genuínos que os meus.
Meu filho nasceu livre, tem casa, tem escola, tem comida, tem quarto quentinho, tem saúde. Tem a nós.
Diz-se que a guerra só acaba para os mortos. Para Aylan, acabou. Para outros tantos ainda há muitas batalhas.
Eu, aqui vendo meu Pedro dormir, sadio e em segurança, choro uma oração e penso no que eu posso fazer para o Aylan mais próximo...